Abraçar o mundo

por Maico Silveira

Já diria a sabedoria popular que quem muito abraça pouco aperta. Noção bastante difundida e que guarda certa verdade em si. Apesar disso, notamos que o mundo cada vez mais demanda que seus habitantes conheçam de tudo, tendo todas as referências possíveis e impossíveis, a ponto de conseguir manter desde um posicionamento crítico sobre assuntos que estão em voga simultaneamente até uma simples conversa com alguém que trabalhe em outra área de conhecimento. No meio de tantas influências, como se constrói a identidade de um indivíduo que tenta abarcar cada detalhe desse mundo onde está inserido?

De uma conversa informal na cidade de Sevilha, Espanha, entre a diretora Camila Bauer e o ator Maico Silveira, nasce a idéia de montar um espetáculo que trate sobre essas influências. Com uma situação mundial conturbada no início do ano de 2010, que vão desde catástrofes naturais (como o terremoto no Haiti e no Chile) até conflitos políticos (a presença de tropas americanas e suas conseqüências para o povo iraquiano), existia o questionamento sobre a função de um artista nesse contexto. Existia a dúvida sobre a possibilidade de falar de coisas tão importantes sem cair no lugar-comum.

Não importa o ponto do globo onde estamos, sempre existirá algo conturbado acontecendo muito perto, sem que necessariamente possamos fazer algo para evitá-lo, ou para solucioná-lo. Se em Sevilha estávamos perto do Oriente Médio e dos problemas de imigração ilegal proveniente do norte africano rumo à Europa sobre o Mediterrâneo em barcos precários, no Brasil somos vizinhos do terremoto chileno, ou do tráfico colombiano. Isso sem falar nas adversidades que existem dentro de nosso próprio território, como os ciclones extra-tropicais que visitam periodicamente os litorais gaúcho e catarinense, ou a ocupação de algum morro pela polícia carioca, ou por algum acidente de trânsito que acontece muito perto de nossas casas. Muitas vezes nossa maneira de lidar com esses fatos é a mais fácil possível: ignorando-os. Talvez olhando para a televisão e comentando como tal coisa é triste, e guardando o fato na memória passageira, para logo em seguida deletá-lo como um arquivo que já não tem função em nosso disco rígido.

O espetáculo O Dia em que aprendi a dizer não pretende abarcar o máximo de informações atuais possíveis. Pretende “abraçar o mundo”, ainda que sabendo da impossibilidade de “apertá-lo”. Questiona o papel de cada indivíduo nesse processo. Pretende falar sobre um homem – um homem comum – que vive no centro desse furacão de influências, a fim de observá-lo, de saber quais serão suas reações caso conseguisse acompanhar com intensidade tudo o que acontece no mundo. Estamos falando de um homem que tenta dar conta de suas responsabilidades enquanto membro de uma sociedade, mas ao mesmo tempo enquanto pessoa, com uma vida a desenvolver. Um homem que, buscando seu bem-estar, está a par de tudo o que é necessário para se viver bem.